quinta-feira, 12 de julho de 2007

Os desafios da política de outsourcing

por Patrícia Peck

Em muitas empresas esta pergunta tem sido feita ou já foi feita, no momento em que se discute o modelo de negócios de TI. Este modelo vem evoluindo, nos anos 70 tinha-se que ter tudo dentro de casa para garantir a operação, na época, a tecnologia não mudava tão rápido e havia reserva de mercado. No entanto, dos anos 90 para cá, tem se evoluído para um modelo de terceirização, ao ponto de TI se tornar Gestão e não mais execução.

Mas afinal o que é TI – Tecnologia da Informação? É core business? Para muitas empresas não, assim como não é a área Jurídica, RH, Marketing, Contabilidade, Compras, Financeiro, outros. Mas a sua execução precisa estar totalmente alinhada com o negócio, impregnada com a cultura da empresa, para que se alcance as metas estabelecidas, com harmonização dos diversos interesses de acionistas.

Devido a minha participação muito grande em diversas reuniões estratégicas de TI, para definição de modelos de outsourcing, e especialmente, elaboração dos contratos que refletem este modelo, posso dizer que na visão dos CIOs em geral, cada vez mais, fica a questão: para que comprar hardware e software, se puder contratar apenas serviço?

Essa discussão tem crescido nas empresas, pois traz uma mudança de cultura muito grande em TI, que por natureza nasceu de uma visão mais conservadora de controle da operação, aonde ter era sinônimo de controlar. Mas, infelizmente, nos últimos anos, passou-se a perceber que ter não tinha nada a ver com controlar, já que tudo fica obsoleto muito rápido, manter legados é muito caro, capacitar equipes também, entre outros desafios.

No entanto, um elemento da equação não mudou, ao contrário, cresceu de importância, que foi a segurança da informação. O quanto uma empresa está disposta a assumir o risco de dar acesso a suas informações sigilosas a um fornecedor, e perder a posse de seus dados, dependendo completamente da existência do terceirizado?

Na área de tecnologia tem crescido de modo esmagador a demanda por serviços, por aplicativos, e fica cada vez mais caro o custo de substituição de componentes (quando os mesmos nem podem ser encontrados 4 anos depois de sua aquisição), fora questões de compatibilidade. Por isso, a tendência do “multisourcing”, para que se possa tirar o melhor proveito de cada fornecedor, mas aonde recomenda-se trabalhar com vários, para não ficar totalmente refém de um só. Neste sentido, é essencial a leitura do livro “Multisourcing” de Linda Cohen e Allie Young, da consultoria Gartner.

A prática de um único fornecedor que resolve tudo está tão ultrapassada quanto o modelo de se comprar mainframes. Então, o que é preciso fazer, na verdade é uma matriz de risco, com análise das áreas críticas do negócio, especificação objetiva e detalhada de atividades e então seleção de fornecedores que garantam o melhor SLA (Service Level Agreement) com o melhor custo para aquela área de especialidade.

O problema do modelo de TI como serviços é resolver o problema do divórcio das partes. Quando há uma quebra de confiança entre contratante e fornecedor, e é preciso retirar o mesmo. Nada é da empresa, nem as máquinas, nem os softwares, nem as pessoas, nem o “help desk”, nada.

Por isso, tudo deve estar muito bem previsto. Nessas horas, sempre o que vale é o que está no contrato. Não basta apenas definir tempo de migração, de três ou seis meses. Isso não é o suficiente para ter uma blindagem legal adequada da operação. É preciso ter cláusula de resolução de conflitos durante a execução do contrato, para evitar chegar a um ponto de ruptura judicial, adequar os gatilhos de “ARC”, fazer atualização de “Baseline”, revisar o mapeamento de processos, manter o equilíbrio econômico-financeiro, proteger propriedade intelectual, especialmente daquilo que é feito conjuntamente (aplicativos), deixar muito claro as multas e penalidades relacionadas a quebra de SLA (multa genérica é o mesmo que não ter multa), e ter inclusive cláusula que permita ir ao mercado periodicamente fazer benchmarking para evitar que em cinco anos o fornecedor tenha se acomodado.

Quanto às boas práticas jurídicas na contratação de outsourcing em TI, este é um capítulo específico no meu novo livro “Direito Digital” lançado pela Editora Saraiva este ano, totalmente atualizado, para quem se interessar em aplicar as mesmas em suas próximas negociações.

Quando o modelo de TI vai para serviços, a Gestão Contratual torna-se crítica, extremamente relevante, e condição inclusive de manutenção da relação entre as partes, com monitoramento de cumprimento de resultados. Assim é possível evoluir no modelo e tirar o melhor proveito, sem traumas.

Dra. Patricia Peck é advogada especialista em Direito Digital, sócia do escritório PPP Advogados, autora do livro “Direito Digital” pela editora Saraiva. (www.pppadvogados.com.br )

Fonte: http://idgnow.uol.com.br/mercado/digitalis/

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