segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Você conhece o Paradoxo do Avô ?


As várias teorias sobre viagens no tempo esbarram numa impossibilidade lógica: o que aconteceria se alguém voltasse ao passado e matasse o próprio avô antes que tivesse filhos? Nesse caso, o viajante não poderia ter nascido nem voltado no tempo para matar o avô. Chama-se a isso o paradoxo do avô. O cientista americano Kip Thorne, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, acha que encontrou uma solução lógica para o paradoxo do avô. Segundo ele, os cálculos matemáticos demonstram que alguém que sai do presente e volta para o passado nunca poderia estar em posição de interferir no futuro. Ele jamais encontraria o avô ou, se o encontrasse e o desafiasse para um duelo, erraria o tiro. Avô e neto seriam como ímãs que se repelem.


Há quatro anos, o físico inglês Stephen W. Hawking chegou à conclusão de que a viagem no tempo era possível. Antes, considerava tal idéia uma agressão ao senso lógico e, por isso, impossível. A questão que o atormentava era o que se convencionou chamar de paradoxo do avô. Se alguém conseguisse viajar ao passado e matar o próprio avô antes que ele tivesse filhos, esse viajante não poderia ter nascido – e muito menos ter voltado no tempo para matar o avô. Três cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, liderados pelo físico Kip Thorne, acreditam ter resolvido a questão. Eles transportaram o paradoxo para o jogo de bilhar: se uma bola fosse lançada pelo taco numa caçapa que fosse a entrada de uma máquina do tempo e voltasse à mesa segundos antes da jogada, poderia colidir com ela própria e impedir que caísse no buraco. Depois de se debruçarem durante meses em intrincados cálculos matemáticos, os físicos concluíram que, ao voltar à mesa, a bola poderia apenas resvalar em si própria, alterando sua trajetória, mas ainda assim caindo novamente na caçapa. "A experiência sugere que as leis da física favorecem a construção de uma máquina do tempo", escreveu Kip Thorne.

E quanto ao assassinato do avô? No universo bem organizado da física, isso seria um paradoxo e, portanto, não deve ser possível. Como dois ímãs que se repelem, neto e avô jamais se encontrariam. A solução do paradoxo do avô não pode nem precisaria ser demonstrada em termos práticos, pois a principal ferramenta da física teórica é o raciocínio lógico. Foi assim, apenas observando o mundo, que Albert Einstein descobriu que o tempo e o espaço não eram como os cientistas até então pensavam. A viagem no tempo é estudada com persistência por cientistas dos principais centros de pesquisa. Para eles, embora a invenção de um mecanismo que permita a alguém se deslocar no tempo ainda esbarre em problemas logísticos de toda ordem, viajar ao passado ou ao futuro é, em teoria, perfeitamente possível. Há dois meses, alguns desses estudiosos se encontraram para discutir experiências no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, uma das catedrais da ciência e da tecnologia nos Estados Unidos. O que move esses cientistas não é exatamente a perspectiva de mandar alguém ao passado como se enviam astronautas ao espaço. Suas pesquisas abrem novos horizontes nos estudos sobre o tempo, que podem elucidar questões fundamentais como a origem do universo ou a composição dos buracos negros do cosmo. "As viagens no tempo são úteis principalmente como experiências de pensamento. São ferramentas para explorar profundamente a relatividade e extrair visões esclarecedoras sobre a natureza do tempo e do espaço", disse a VEJA o físico Francisco Lobo, da Universidade de Lisboa, especialista em relatividade.

A maioria dos cientistas, inclusive Albert Einstein, sempre resistiu à idéia de viagens no tempo. Isso até que, em 1988, o mesmo Kip Thorne, que desvendou o paradoxo do avô, publicou dois estudos concluindo que as leis da física, em teoria, sustentam as viagens no tempo através dos chamados buracos de minhoca, túneis que se supõe existirem no cosmo, gerados pelo Big Bang, e que servem como atalho entre pontos distantes do universo. Curiosamente, Thorne começou a montar a teoria dos buracos de minhoca como máquinas do tempo com base na ficção científica. Quando escrevia o romance Contato, o astrônomo Carl Sagan (1934-1996), da Universidade Cornell, esbarrou num problema: como fazer a heroína Ellie Arroway, vivida no cinema por Jodie Foster, atravessar distâncias imensuráveis na Via Láctea? Sagan consultou Thorne. A resposta: a heroína deveria atravessar um buraco de minhoca.


Ninguém jamais viu um buraco de minhoca, mas a teoria da relatividade de Einstein dá aos físicos a confiança de que, se um dia toparmos com uma dessas bizarras estruturas, poderemos usá-la como máquina do tempo. Antes de Einstein, seguindo as leis de Isaac Newton, os físicos encaravam o tempo como algo absoluto e universal – um segundo é sempre um segundo, tanto para um motorista parado no engarrafamento quanto para um astronauta viajando a 27.000 quilômetros por hora no ônibus espacial. Na teoria da relatividade, Einstein rompeu com esse senso comum e demonstrou que o tempo varia conforme a velocidade em que se encontra o observador. Quanto mais rápido alguém viaja, mais longo fica cada segundo, em comparação a quem ficou parado. Esse seria o fundamento usado na construção de uma máquina do tempo. Em teoria, bastaria encontrar um buraco de minhoca, deixar uma das bocas parada perto da Terra e fazer a outra boca viajar muito rápido, a uma velocidade próxima à da luz, para criar uma defasagem de tempo entre a entrada e a saída do túnel. Não é exatamente fácil montar uma máquina do tempo. Além da dificuldade de achar buracos de minhoca, nossa tecnologia não é capaz de construir uma nave que possa arrastar a boca do túnel cosmo afora – ainda mais a uma velocidade próxima à da luz. Mas isso, para a ciência, é mero detalhe. Como escreveu Stephen Hawking, "ainda que a viagem no tempo se mostre impossível, é importante entendermos por que ela é impossível".

Fonte: http://www.adur-rj.org.br/

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